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domingo, 27 de maio de 2012


LEGIÃO DE CAMELOS

Uma caravana de camelos atravessava o deserto. Chegou a hora do descanso e o cameleiro preparava-se, como habitualmente fazia, para prender os camelos às estacas, quando verificou que faltava uma estaca.


Não sabendo como resolver o problema, perguntou ao mestre da caravana:


- Mestre, falta-me uma estaca para um camelo. Como fazer?


- Não terá problema. Eles estão tão habituados a ficar presos que, se tu fingires que atas o camelo com a corda, ele pensará que está preso e nem sequer tentará sair do lugar.


O cameleiro assim o fez e o camelo ali ficou toda a noite.


No dia seguinte, quando se preparava para partir, o mesmo camelo simplesmente recusou-se a sair do lugar, mesmo quando o cameleiro o puxava com toda a força. Sem saber que atitude tomar, dirigiu-se de novo ao mestre, contando-lhe o sucedido.


- Homem, respondeu-lhe o mestre. Que fizeste ontem? Não fingiste que o ataste à estaca? Então faz o mesmo hoje. Finge que o está desamarrando.


Assim que o cameleiro fingiu que o desatava da estaca imaginária, o camelo recomeçou a caminhada.


Eu tenho acompanhado os comentários recentes na mídia e nas redes sociais a respeito do desempenho de alguns indicadores que medem a qualidade na educação.


Pelo menos dois resultados divulgados nos últimos dias criaram um certo movimento na mídia e manifestações nas redes sociais. O primeiro, com relação ao resultado do Concurso para o Magistério Público Estadual, onde de um público de pouco mais de 60.000 candidatos apenas pouco mais de 5.200 candidatos foram considerados aprovados. O segundo, com relação ao levantamento em pesquisa do INEP que dá conta que o Estado do Rio Grande do Sul é campeão no número de alunos reprovados no Ensino Médio.

E aí vem uma séries de manifestações, acusando as instituições de ensino superior por não formarem os professores com a devida condição para assumirem uma sala de aula, acusando os professores de incompetentes e despreparados e comparando este cenário ao desempenho dos alunos do ensino médio, que não apresentam o índice adequado de aprovação.

Como educador, sempre defendi que uma prova aplicada e uma turma que tenha um índice de insatisfação acima de 20% não reprova o aluno, mas sim o professor. O que diremos, então, de uma prova que reprovou cerca de 90%?

Tenho um carinho especial pelo tema avaliação e sempre defendi que a avaliação é algo muito complexo e que precisa considerar vários aspectos. 

De uma forma muito abreviada e sem grandes desdobramentos sobre o tema, posso considerar que alguns destes aspectos são:

1. A avaliação pode ser diagnóstica ou classificatória;

2. A avaliação diagnóstica identifica o desempenho do aluno, mas também do professor no seu exercício de prover a educação. Se uma avaliação tem um índice acima de 20% de insatisfação, o primeiro a ser avaliado é o próprio professor. Não que tenha sido incompetente, mas talvez tenha previsto avaliar os alunos sem que todas as questões pertinentes estivessem resolvidas. Cabe, então, ao professor verificar o que não foi compreendido pelo aluno e retomar, talvez com outras estratégias e outros recursos que permitam o entendimento;

3. A avaliação classificatória não tem a finalidade de diagnóstico. É uma avaliação que tem como finalidade a classificação do público que participa desta avaliação. Portanto, não cabe um diagnóstico. Uma avaliação classificatória pode ser extremamente simples e de baixa complexidade ou extremamente difícil e de alta complexidade. O resultado não vai definir o perfil de quem realizou a avaliação, mas sim posicioná-lo em um ranking. Se a avaliação for de baixa complexidade, assim o será para todos e deveremos ter resultados de alto índice para a grande maioria. Se a avaliação for de alta complexidade, assim o será para todos e deveremos ter resultados de baixo índice para a grande maioria. O que importa, neste caso, é a posição que cada um ocupa no ranking;

4. Portanto, avaliação diagnóstica pressupõe investigar o nível de conhecimento de um determinado público e avaliação classificatória tem como propósito o posicionamento do perfil deste público ou um ranking;

5. Não porque confundir avaliação diagnóstica com avaliação classificatória, assim como não há como confundir avaliação comportamental com avaliação cognitiva;

6. Ao elaborar um instrumento de avaliação, há que se considerar os aspectos de fidelidade, fidedignidade e perfil do público-alvo.
Por outro lado, a avaliação de indicadores em uma pesquisa estatística não pode levar em conta apenas os números absolutos de um resultado. Há que se considerar a conjuntura e aspectos específicos destes indicadores. Por exemplo, considerar o índice alto de reprovação dos alunos do Ensino Médio no RS envolvem os alunos do Ensino Médio regular e os alunos do Ensino Médio na modalidade EJA - Educação de Jovens e Adultos. Ora, bem sabemos que são públicos diferentes e com realidades distintas. Considerar os dois públicos em um mesmo perfil traz resultados distorcidos.

Há muito tempo tenho sido um crítico de algumas medidas adotadas na educação. Por exemplo, escola não é espaço para prover a alimentação do seu público. Mesmo que tenha que considerar as estatísticas de desnutridos, alcançar à escola a tarefa de se responsabilizar pela nutrição é usar uma medida paliativa e que desvia o foco da verdadeira raíz do problema, ou seja: a má distribuição de renda e que cria as faixas sociais. A criação de cotas para alunos de etnias desprestigiadas ou para alunos oriundos de escolas públicos não me parece resolver o problema. As etnias desprestigiadas assim o são por uma questão histórica e cultural e a solução para prover um maior prestígio e a igualdade social está nas políticas públicas, na melhor distribuição de renda e na criação de mecanismos que permita o acesso de todos à educação, de forma concreta e abrangente e não por meio de dispositivos paliativos.
Mas o pior exemplo é quando se designa às escolas a tarefa de servirem como ferramentas de políticas públicas que beiram ao cômico. Um exemplo que já vi diversas vezes é o de distribuição de preservativos nas escolas. O outro é o de utilizar os profissionais da educação para campanhas de vacinação de público externo às escolas.

A educação é uma ferramenta extremamente eficaz e com um potencial enorme, mas aqui no Brasil não é utilizada de forma eficaz.

Estamos amarrados a estacas mentais que nos impedem de avançar e provocar uma verdadeira revolução. Esta revolução passa pela educação. Nós só não avançamos porque estamos presos às nossas "estacas mentais". 

Estas estacas são fruto da nossa acomodação.

Prof. Uwe Roberto Strauss
e-mail: urstrauss@terra.com.br
www.educadorpontocom.blogspot.com