"Superior stabat lupus" (O lobo estava rio acima) faz parte de uma fábula do romano Fedro (15 a.C. - 50 d.C.). A fábula conta a história de um cordeiro que bebia água no córrego que corria em um trecho de terreno inclinado. O cordeiro avistou um lobo que fazia a mesma coisa um pouco mais acima de onde estava. O cordeiro bem que tentou se esconder atrás de uma moita próxima, mas antes que pudesse fazê-lo, o lobo já o avistou. Como o lobo estava cansado e irritado com a fome que fazia seu estômago doer, perguntou logo ao cordeiro:
- Como é que você se atreve a sujar a água que estou bebendo?
O cordeiro respondeu:
- Senhor lobo, eu não estou sujando nada. A água está vindo daí para cá, como é possível que eu a esteja sujando?
O logo retrucou:
- Não importa, você vai ter que me explicar por que andou falando mal de mim no ano passado.
- Mas, senhor lobo, no ano passado eu ainda nem havia nascido.
- Se não foi você, então foi seu irmão.
- Ora, senhor lobo, mas eu não tenho irmão, sou filho único.
- Bem... se não foi você, então foi algum conhecido seu, algum outro cordeiro, o cachorro que guarda o rebanho ou até mesmo o pastor. O que importa é que eu fui ofendido e por isso preciso me vingar.
E então o lobo avançou sobre o cordeiro indefeso, agarrou-o com os dentes e foi embora à procura de um lugar tranquilo onde pudesse devorar a sua presa.
A fábula do lobo e do cordeiro pode ser uma metáfora interessante para avaliar o "poder". No caso, é um exemplo do poder onde a razão do mais forte é a que sempre prevalece. O poder não precisa ser necessariamente assim. Mas, invariavelmente, é assim que ele normalmente aparece e é assim que normalmente ele é utilizado.
Usar o poder não é para todos. Além do poder, é preciso sabedoria.
Mas, afinal, o que é o PODER??? Em resumo, poder é conseguir que outros façam o que se deseja que façam. Há várias maneiras para conseguir isto.
O poder é LEGÍTIMO quando é reconhecido o direito legal para alguém exercê-lo. Para isto, é atribuído um mandato.
O poder pode ser exercido pela COERÇÃO. A coerção é danosa quando o seu uso não é lícito. É lícito o uso da coerção quando está em jogo algo maior ou quando um bem coletivo estiver ameaçado. A coerção é danosa, quando faz valer um desejo próprio e que não beneficia necessariamente o coletivo.
O poder pode ser exercido pela RECOMPENSA, quando proporciona o aumento de status do outro, quando proporciona uma maior visibilidade. O elogio tem uma capacidade de recompensa enorme. Mas o elogio deve ser sincero. Caso contrário, não é recompensa. Elogio falso é como graveto que se joga ao fogo. Incendeia, queima e logo apaga.
O poder também pode ser exercido pelo CARISMA. Neste caso, o detentor do poder impõe-se pelo respeito e admiração pela suas características e pela sua personalidade. No entanto, o líder carismático pode ofuscar uma organização.
Francis Bacon (1600) já dizia que "Conhecimento é Poder". Ter habilidades e conhecimentos que outros necessitam nos dá o poder.
O poder também traz as suas armadilhas. O líder que se consagra tem medo de perder o poder e cria mecanismos de defesa. O líder será sábio se souber perceber sinais que mostram os limites do seu poder. Quem pode mais dar estes sinais é a equipe deste líder, o seu "staff". Esta equipe deve se impor junto ao seu líder. Aliás, toda equipe deve ter um rebelde. Este, por sua vez, não deve ser reprimido pelo líder. O rebelde é importante para o contraponto.
O líder é alguém muito ansioso e é alguém solitário. É ansioso porque tem medo do fracasso. Mas, também, tem tanto medo do sucesso quanto do fracasso. Se o empreendimento é um sucesso, o líder tem medo da repercussão, pois não sabe se manterá o padrão do sucesso alcançado.
Como lidar com o poder?
Em organizações, sempre teremos um "lobo rio acima". Não pensem que o poder dá segurança. Sempre haverá um lobo a espreita, esperando de tocaia, para dar o seu bote e devorar o carneiro. Não, sem antes fazer-se valer pela força. Sempre haverá alguém que conhece melhor os mecanismos do poder e não se furtará de usá-los a seu favor.
A busca pelo poder pode ser selvagem. A necessidade de poder faz com que as pessoas se comportem de uma maneira que normalmente não fariam. A necessidade de um status leva as pessoas a utilizarem inclusive de artimanhas para alcançar o poder. As alianças, redes e coalizões, envolvendo troca de benefícios mútuos são instrumentos utilizados com frequência nas organizações.
O contraponto é promover o "empowerment" (empoderar-se ou empoderar a equipe), eliminando o monopólio do poder, das informações e do desenvolvimento e dá poder às pessoas para aproveitar ao máximo o talento coletivo. As pessoas sentem-se com o poder quando percebem que a sua contribuição é importante para a organização e alcance dos seus objetivos.
Organizações que têm em sua estrutura líderes autoritários e onde há um monopólio do poder são organizações fadadas ao insucesso. É apenas uma questão de tempo.
Bons líderes sabem ser carismáticos e sabem recompensar. Mas devem ter habilidades e conhecimentos singulares e devem saber fazer valer a obediência às regras e às normas devido à crença que as mesmas devem ser acatadas, mesmo que, para isso, usem da coerção. Regra sem coerção é como luz que não ilumina.
Qualquer outro tipo de liderança é como o lobo que espreita o cordeiro no alto do rio.
Prof. Uwe Roberto Strauss