VAMOS VOLTAR A SER CRIANÇA...
No final dos anos 80, eu me associei ao Círculo do Livro, onde permaneci associado até meados dos anos 90. Era algo inédito na época e funcionava assim: Todos os meses você recebia uma revista com os últimos lançamentos literários. Para continuar associado ao Círculo do Livro, a única obrigação era adquirir um livro mensal. Isso era muito interessante porque você acabava lendo um livro por mês.
Vários destes livros adquiridos eram de literatura, ora romances ora livros de ficção. Deixei muitos destes livros como doação para a biblioteca de uma escola onde atuei na Direção, depois que sai, há alguns atrás.
Outros livros adquiridos eram livros técnicos, sobre educação, filosofia e música.
Um destes livros ainda hoje está na prateleira do pequeno escritório em casa. Chama-se "Quando Eu Voltar a Ser Criança", de Janusz Korczak. Lembro que o havia adquirido por sugestão em uma das aulas de Filosofia e Ética, do saudoso Prof. Ernest Sarlet, no Curso de Pós-Graduação em Educação que realizei em 1993-1995.
Nas dedicatórias "ao leitor adulto", o autor cita o seguinte texto:
Vocês dizem:
- cansa-nos ter de privar com crianças.
Tem razão.
Vocês dizem ainda:
- Cansa-nos, porque precisamos descer ao seu nível de compreensão.
Descer, rebaixar-se, inclinar-se, ficar curvado.
Estão equivocados.
Não é isso o que nos cansa, e sim, o fato de termos de elevar-nos até alcançar o nível dos sentimentos das crianças.
Elevar-nos, subir, ficar na ponta dos pés, estender a mão.
Para não machucá-las.
Nos últimos dias, nas páginas da rede social FACEBOOK, ganhou corpo uma campanha, provocando aqueles que estão adicionais nas páginas de seus respectivos amigos para que alterem a sua imagem pessoal pela imagem de um personagem infantil ou de histórias em quadrinhos, até o dia 12 de Outubro.
Os idealizadores da campanha sugerem que a iniciativa seja em prol de um movimento contra a pedofilia e a violência infantil, além de ser uma homenagem ao Dia das Crianças.
Eu aderi à campanha e troquei a imagem pessoal por uma imagem do personagem de desenhos animados ASTERIX, que aparace com seu fiel companheiro e amigo OBELIX.
Asterix e Obelix são personagens que representam uma vila de gauleses, povo que resistia às conquistas dos romanos. Lembro com nostalgia deles da época em que estava no internato, durante parte do meu 2º grau, quando devorava as histórias em quadrinhos com Asterix e Obelix, nos sábados a tarde, quando a maioria dos internos tinha ido para casa e apenas alguns, que moravam mais longe, permaneciam durante final de semana.
Há manifestações quanto ao receio de que esta seja justamente uma campanha idealizada por pedófilos, visando esconder-se atrás das imagens inocentes dos personagens infantil, visando aproximar-se com mais facilidade das crianças.
Não levo fé nesta versão, uma vez que há uma série de mecanismos de proteção e cuidados para quem está nas páginas do facebook, embora não possa desconsiderar que possam haver pessoas em algumas páginas desta rede social, com este propósito.
Eu aderi à campanha pela brincadeira saudável e sem qualquer malícia e pela homenagem às crianças. Além do mais, estou me divertindo com as lembranças de todos.
Assim como o autor Janusz Korczak sugere em seu livro, precisamos às vezes voltar a ser criança. Nós, os adultos, temos dificuldade em aceitar mudanças de rotina, transformações, somos extremamente pragmáticos, apegados a paradigmas instransponíveis...
Temos que aprender novamente com as crianças a ter objetivos, ser criativos, mudar o rumo da trajetória no meio do caminho, como as crianças fazem em suas brincadeiras, sonhar e aprender a fazer da vida uma eterna brincadeira...
Esta história de trocar a imagem do perfil do facebook não vai contribuir em nada para erradicar da face da terra esta corja deplorável e nojenta dos pedófilos e daqueles que submetem estes seres indefesos a crueldades inimagináveis...
No entanto, se nos permitirmos ser criança novamente, com gestos como este de trocar a imagem pessoal por um personagem infantil, a nossa rotina massacrante deste mundo capitalista e neoliberal pode trazer de volta a nossa criança interior. Aí sim, quem sabe, ficarmos atentos à violência infantil e tantas injustiças contras as crianças que estão diariamente ao nosso redor.
Às crianças, a vida, a alegria, um lar, uma família e o alimento... Isto cabe a nós.
Aos que praticam a violência contra a criança, o cárcere, a execração pública e medidas para banir esta corja da sociedade. A nós cabe identificar e denunciar. Aos órgãos responsáveis cabe tomar as medidas cabíveis:
- Conselho Tutelar
- Ministério Público
- Polícia
- Disque 100
Prof. Uwe Roberto Strauss
www.educadorpontocom.blogspot.com